27 de agosto de 2008

A falsa concepção da difícil conjuntura

Na política do partidarismo solidário incomoda a dissonância, o debate e a reflexão. O melhor maquinismo partidário, do debate de corredor, faz emergir determinada facção, apostada em fazer valer, interesses comuns. Constituem-se, dentro das máquinas partidárias, blocos de influência que conhecem a sua génese nos corredores do poder. Rapidamente a facção de corredor perfilha um qualquer movimento oposicionista interno encabeçado, por um também qualquer, «homem da máquina». Este Movimentacionismo interno deslindou a seguinte «fórmula de oposição»: Entre Sorrisos, abraços, comprimentos, simpatias e amabilidades lá vai chegando a militância adepta da facção. Nas mesas, geralmente redondas, serve-se o vulgar jantar. No palanque, improvisado, o discurso efusivo, crítico e direccionado à clientela, afecta, correspondido, pelo já habitual, coro do aplausos. Na calha o jornalista romantizado pelo esquema, conhecedor do rodeio, encarregue da notícia, primeira página, letras gordas, no jornaleco diário do dia seguinte. O comentário político, ao cargo de meia dúzia de articulistas de telejornal, os ocupantes costumeiros do monopólio opinativo, enfatiza a fantasia e fomenta o aparecimento destas alas divergentes de ataque às lideranças. Soltam-se palavras de ordem: instabilidade e divisão.
A concepção da difícil conjuntura é a mais recente teoria dos «jornaleiros à Direita». Homens de facção, do movimento contrário à ordem, do cálculo oportunista, liberais pintados de sociais-democratas, apoiantes da conveniência e amantes do corredor. Substancia-se nestes propósitos: a crise internacional, agravada pelo jogo especulativo que envolve o preço do petróleo, é uma realidade permanente. A ideia vanguardista liberal apostada na auto-regulamentação do mercado, pelo próprio mercado, fracassa e a concepção de preço de equilíbrio é ilusão. Portugal, economia de dependência, encontra-se, desta forma, submerso numa crise económica sem precedentes. A crise económica abre, então, a porta à crise social traduzida no fim da classe-média, no desemprego, na precariedade, na pobreza e na segregação social. Há, portanto, uma crise internacional efectiva, à qual, as economias de dependência não conseguem fazer frente e que, em ultima análise, afecta todo a sociedade civil. Estão reunidas as condições necessárias ao fim do governo socialista. A solução, em 2009, só pode significar uma «viragem à direita».
A concepção da difícil conjuntura, teoria a cargo dos «mandatários da Direita», afigura-se desprovida da qualquer estudo político. O ataque do Partido-Socialista ao «Centro moderado» só pode significar uma perda à «Esquerda». O crescimento do Bloco não se traduz na alternativa mas a ocupação do espaço político deixado pelo PS na sua deslocação para o «Centro». A estratégia da «Esquerda», para 2009, consiste em forçar, cada vez mais, a deslocação do PS ao «Centro» e ocupar, definitivamente, a «Esquerda». Ao «Centro Direita», a estratégia da omnipresença, traduz-se em Ocupar a totalidade da «Direita», acumulando a facção do CDS-PP, disputar do «Centro», com o PS, e, a «bandeira social-democrata», permite dividir a «Esquerda».
Em 2009, à «Direita», o termo da solução messiânica, do regresso triunfante do salvador, do cavaquismo forçado e esforçado e da intenção aristocrática de rumar ao poder conduz ao principiar do movimento híbrido, da ideologia mista e da hegemonia do anti-excesso.
O Partido-Socialista está condenado, com ou sem maioria absoluta, a ser novamente governo.

Jornal da Mealhada
André Manuel Vaz