28 de junho de 2008

A teoria da conspiração

O comício do Teatro da Trindade anexou bloquistas, socialistas e comunistas renovadores foi jogada de bastidores do Partido-Socialista. A «máquina socialista» convive, relativamente bem, ao contrário do que ostenta parecer, com os devaneios alegristas. A joga é evidente: se, em 2009, o Partido-Socialista obtiver nova maioria absoluta, ideia que se vai esvaziando, Manuel Alegre constitui-se como aposição interna do partido, esquerdista da ilusão, poeta idealista e o Bloco antro dos lobbys homossexuais. Caso contrário o PS, com maioria relativa, coligar-se-á ao Bloco. Ai Manuel alegre foi o socialista consciente, o poeta absorvido pela justiça social e o elo de ligação ao Bloco que o partido reclama. Ò Bloco da justiça, ò Bloco da moral, ò Bloco da ética, ò Bloco, ò Bloco, ò Bloco…
Outrora o cavaquismo fora a alternativa. Hoje, com Ferreira Leite, é a transição para o populismo disfarçado, fingido e responsável de Rui Rio. Telho-o dito: o PSD nunca conheceu, senão o populismo, outro antídoto ao cavaquismo. Aquando das legislativas, em 2009, o PS preparou o regresso triunfante, à esquerda, com o Bloco. O Partido Social-Democrata sai, mais uma vez, derroto às costas do cavaquismo. Ò nostalgia, ò tristeza, ò saudade, ò cavaquismo vácuo, ò impossibilidade do retorno ao «centrão», ò PSD, ò PSD, ò PSD...

André Manuel Vaz

21 de junho de 2008

PSD: entre o messianismo desesperado e o populismo sedutor

Do triunfo de Manuela Ferreira leite nas internas do Partido Social-Democrata há ilações claras a reter. O PPD-PSD é um partido fraccionado e de sentimentos contraditórios. O populismo emergente, cativante e entusiástico está agora na sombra do cavaquismo sólido e maciço pronto a manifestar-se aquando oportuno momento. Com Ferreira Leite “a bordo” do PSD o regresso ao passado está ai tanto na forma como no conteúdo. Reina de novo, agora como dantes, a aristocracia intelectual deixada ao abandono pela hegemonia dos movimentos liberais e reformadores.
O PPD-PSD é um partido profundamente messiânico. O único antídoto que conhece ao populismo é o cavaquismo ou as suas formas sucedâneas. Quando se esvaziaram os devaneios santanistas lá veio o firme cavaquismo através de Marques Mendes. Enquanto o partido se iludia em fantasias Menezistas ai está o pragmatismo cavaquista com Manuela Ferreira Leite.
Este dilema traduz a disparidade entre o Novo PSD, da escola neoliberal e reformadora, e o Velho PSD do culto do Estado como supremo regulador.
O PPD-PSD é, hoje, um misto de cavaquismo, de nostalgia, de saudade do passado, de populismo oportunista, de movimentos de ascensão, de pensadores fantasistas, de oportunistas costumeiros e de movimentos contra-hegemónicos.
Conseguirá a “Velha Guarda Social-democrata” silenciar tudo isto?

André Manuel Vaz

20 de junho de 2008

Que Intervencionismo de Estado?

«A democracia vai morrendo» Vasco Pulido Valente
Sequela do “ânimo leve”, do “corriqueiro racionalista” e da “convicção casmurra”, aliás, bem portuguesa, apresentamo-nos, face à sociedade e ao mundo, visivelmente bem domesticados. É a moda do “Der Ser”, do “Dever Pensar” e do “Dever Agir” desta Comunidade Europeia dicotómica entre o relativismo galopante e o «orgulhosamente sós» do nosso “querido amigo”. É o “Dever Ser” que nos impede fumar em locais públicos. O “Dever Pensar” alerta para a necessidade da preservação da saúde pública e dos “coitadinhos” dos fumadores passivos. O “Dever agir” obriga a frequentar “guetos” para quem desfruta do vício ou, sabe-se lá, do prazer do cigarro.
O “rebanho”, a massa social e o cidadão comum vão ao leme deste entendimento. Numa primeira abordagem à questão, também eu, confesso, integrei o “rebanho” dos que defendem, em nome seja lá do que for, um intervencionismo de Estado radical, tirano, pesado e intransigente. Docilmente fascista, suavemente totalitário, brandamente ditatorial e meigamente repressivo. Pensar assim é não entender o dilema. Este intervencionismo atroz toma conta do Individuo, da sua liberdade individual e da singularidade como pessoa. O Estado tal como a Europa têm vindo a “comer” o Individuo.
Uma Europa apostada na uniformização de processos e que vai na “onda” da globalização desmedida. Onde prolifera a tolerância acéfala, saudável, permissiva, moderada e vazia em si mesmo. Uma Europa que não tolera nem atende, aos restos, de uma “burguesia” enfatizada. Pomposa, culta, excêntrica, elitista, e intensamente crítica, que, não alinhando nem com os “cardumes” nem com as “manadas” de opinião, vai entendendo o dilema. Vai entendendo, que a tal ânsia desmesurada, na marcha para a unidade de Europa, colide, com uma sociedade heterogénea, diferenciada e que a sua riqueza, está, na existência de diferentes especificidades culturais, que, mais ou menos harmonicamente, convivem entre si. Num mundo de multiplicação e divisão, dos centros decisórios, a Europa quer, loucamente, reunir-se.
É o desejo Quimérico da sociedade perfeita e igualitária. É a diferenciação prepotente, tipicamente Ocidental, de uns melhores do que outros. É a ilusão do “espaço vital” hitleriano.
A democracia vaia-se esgotando com o estreitar dos direitos individuais.

André Manuel Vaz

A Questão Cubana

“O povo cubano e a revolução socialista devem muito a Fidel Castro. Teve um gigantesco papel na liberdade, na soberania de estado e no prestígio de cuba”, Albano Nunes, comissão política do PCP.
São estes os argumentos da “velha esquerda”, portuguesa, em relação à forma como cuba foi dirigida durante meio século. Esta “velha esquerda”, conservadora e de boa ética, entende que meio século de dirigismo político de um país, centrado na figura de Castro, constitui um bom presságios de um regime saudável, renovador e representativo. Considera que um ditador, como foi Fidel, teve “um gigantesco papel na liberdade”. É a teoria de que é possível coexistir liberdade com prisões políticas, com autoritarismo de estado, com vacuidade de liberdade de imprensa, com perseguição à oposição política, com inexistência de pluralismo e com um regime fechado em si e para si. Vê na soberania de estado a guerra com os E.U.A. e não o entendimento dos fins últimos do Estado: paz social, justiça e a ordem pública.
Agora a questão central é perceber o futuro próximo de cuba. Há, loucamente, quem acredite que o sucedâneo Raul Castro conduzirá cuba à liberdade. Não tenhamos ilusões. Raul Castro representa a “evolução na continuidade” marcada pelo hipotético progressismo do regime.
Cuba, sobe alçada de Raul Castro, será a fantasia Marcelista que esvoaçou no “céu português” por altura da Primavera.

André Manuel Vaz
Globalização e complexidade

Pensar a globalização é compreender teilhard de chardin. A globalização entendida como processo de aproximação planetária onde proliferam pontos de contacto comuns é tida como co-responsável no surgimento da cultura de massas. Potenciou, mais ou menos explicitamente, a interdependência mundial, o aprofundar das relações entre pessoas e Estados bem como a intensificação dos mercados internacionais.
Padre e filósofo, chardin, presta um interessante contributo à compreensão do fenómeno. A base explicativa da sua teoria prende-se com o entendimento das noções de “convergência”, “divergência” e “emergência”.
A convergência traduz-se na marcha para a unidade do mundo e no aparecimento de blocos de interesses e influência. A União Europeia constituiu-se com base nesses pontos de contacto comuns assumindo-se como um dos blocos de influência mais marcantes do século 20.
A divergência manifesta-se com a multiplicação dos centros decisórios. No aparecimento de poderes erráticos e infra estaduais. No surgimento de novos Estados e no despertar de movimentos contra hegemónicos. Os diferentes grupos de pressão, conhecidos sobre a forma de “lobbys”, apresentam-se como uma alternativa da influência sobre o poder legislativo em favor de interesses tidos como privados.
A emergência constitui-se, assim, como um estado mais complexo de entendimento, de uma dada realidade, não pela síntese de diferentes convergências e divergências mas pela sua superação.
Assim, nas relações internacionais, há, em cada momento, sinais de convergência e de divergência e concludentemente novas emergências. Ao mesmo tempo que as relações multilaterais e de dependência se impõem surgem novos actores nas relações internacionais num contínuo processo de equilíbrio e desequilíbrio do quadro internacional.
Neste sentido considera-se a globalização uma “filha legítima” resultante do intensificar de estados de entendimento e da sua consequente superação em realidades mais complexas.
A propósito, José Adelino Maltez, propõe, a fim de reflexão, o conceito de “medo global”. A dada altura o Homem apercebe-se da existência de inimigos comuns contra os quais, cada um de nós, sozinho, nada pode fazer. São eles, a título de exemplo, o aquecimento global, o efeito estufa, a desertificação, a poluição e o degelo. Com base neste novo sentimento de consciência global, trazido pela ideia de “medo global”, assistiu-se ao acelerar dos processos de Mundialização.
Na tentativa de compreender os futuros efeitos da globalização vamos proceder de uma forma bem portuguesa: encontrar culpados e equacionar cúmplices. Culpa-se a revolução tecnológica, a massificação dos meios de comunicação e o efeito aldeia global aliados ao jogo especulativo, ao capitalismo selvagem, aos interesses privados e aos monopólios de influência.
Não temos, a modéstia, de considerar a globalização o reflexo da complexificação do homem enquanto ser que racionalmente existe e, que por existir, teme.
É esse o contributo dado por teilhard de chardin e Adelino Maltez.

André Manuel Vaz