16 de novembro de 2008

O vazio

Enquanto o mundo discute, os seus destinos, entre dois homens – Barack Obama e John Mccain – vamos vivendo na sombra. Há que recuperar a máxima «em política as ideias não precisam ser úteis mas parecer úteis».
Fica na retina, contudo, as vozes gritantes da mediocridade intelectual que entende existir a unidade necessária, em torno do primeiro candidato afro-americano à casa branca, Barack Obama, capaz de mudar o curso da história e da humanidade. Fantasia tétrica. O candidato democrata não é mais que o vazio de ideias entre o seu sorriso bonito e contrastante, percebe-se porquê, e o discurso eloquente, claro está, que pompeia.
A campanha pobre, de pensamento e propostas, alimentada pelo recrutamento da militância adepta, do devaneio, claramente apostada na distribuição de panfletos, fundo azul-bebé, onde se subscreve, preto carregado, a mensagem: «Change We Need». O vazio da mensagem, macabro, de quem quer vender a ideia, pouco fundamentada, de que John Mccain representa a continuação da política Bush, em matéria de linhagem externa, a que coloca a América na guerra pela «salvação do mundo» contra um povo apostado em experiências limite.
O paliativo, preocupante, reside no argumento, ou como alguns preferem chamar-lhe, contra-argumento: o racismo proveniente dos totalitarismos do século XX, irracionais e criminosos, deu lugar ao «racismo moderado» das sociedades democráticas modernas. Sociedades cujo triunfo, constatação inquietante, reside no «mal necessário» da pobreza e discriminação serem minoritárias. Um «racismo moderado» que permite, a diferentes raças, a convivência num mesmo espaço de relação e que tolera a integração étnica. O que não tolera é a deriva na liderança da América e dos destinos do mundo.
O vazio impôs-se e os americanos, tal como nós, deixaram de pensar. As heresias dos crentes e os sonhos de Martin Luther King prevalecem. Haja loucura.

André Manuel Vaz