26 de fevereiro de 2009

A revolução e a pós-revolução

Ao explicar qualquer tipo de fenómeno revolucionário a Ciência Política, enquanto estudo do poder organizado, vai ao encontro do truísmo: «todas as revoluções são pós revolucionárias». Neste sentido acredita-se que a revolução não se substancia em si mesma mas na expressão das mudanças que dela advém. Começo a olhar com resistência este axioma.
Terça-feira, 19 de Janeiro de 2009, Washington, mais de dois milhões de pessoas assistiram à tomada de posse de Barack Obama. Embalado ao som de «My Country, tis of thee», de Aretha Franklin, e já sem os dispensáveis panfletos, fundo azul-bebé, onde se subscreve, preto carregado, «Change We Need», o novo presidente discursou para quem o elegeu: classe media e minorias.
Um discurso marcado pela recuperação, bem conseguida, do Liberalismo Moderado de Jonh Rawls – há quem o considere Liberalismo Social-democrata ou igualitário. Liberalismo Moderado na medida em que garante os direitos fundamentais dos cidadãos primando este princípio sobre o da aceitação da redistribuição desigual quando esta favorece os mais desfavorecidos. Rawls acredita que a natureza gera desigualdades, uma lotaria incontrolável, as quais a sociedade deve corrigir a fim de garantir, que os menos capazes, se encontrem em situação de igualdade de oportunidades. Este teórico, cuja obra mais conhecida: «A Theory of Justice», considera que sob um véu de ignorância – momento hipotético onde indivíduos, que se desconhecem enquanto seres, são obrigados a decidir sobre os fundamentos reguladores da sociedade – escolhem princípios de igualdade e de correcção do desigual. Há em Rawls um darwinismo encoberto e a crença, ainda que não assumida, na selecção natural que a sociedade de homens racionais deve dirimir.
Uma certeza sem propósito: a Ciência Moderna – responsável pela criação dos funcionários cegos da técnica, tratou de relegar as teorias da superioridade racial, do século XIX, para o baú das recordações indesejáveis da Velha Ciência – concepção assente na divisão dos seres humanos em diferentes raças, de complexidades diferentes, onde o mundo tido como estático e criado por Deus existia sob a aura da perfeição. No seguimento do pensamento de Nietzsche: «Os inimigos da verdade não são as mentiras mas as convicções» e no reflectir sobre o Ironismo de Rorty onde se considera não haver abordagens privilegiadas da realidade vejo-me obrigado a reconhecer que diferenças existem entre grupos humanos, não genéticas mas de percepção do mundo, face ao modelo cultural dominante que tende para ser o Ocidental. Uma situação de privilégio para quem o perfilha.
Barack Obama, num mundo complexo e de pilotagem automática, onde os mecanismos de decisão nem sempre se encontram sobre a tutela dos Estados Soberanos será a revolução sem mudança. A mudança sem força de expressão. Um paliativo indigesto – peço desculpa pelo manifesto pessimismo pois não acredito na política da verdade fora do princípio de «Fim último» de Maquiavel. Reconheço, contudo, a contra-corrente desta minha visão face à esperança da comunidade mundial.

André Manuel Vaz