17 de outubro de 2008

O conto: A evasão e a glória.
A história de João de Castro Mendes e o Portugal burguês dos sonhos gigantes.

João de Castro Mendes, filho de Manuel Ferreira de Castro e Maria da Conceição Mendes, nasceu e cresceu no Alentejo. Os verdes anos passados entre os campos de trigo e o fruir da liberdade. A infância tolerante no recato do Outono e a juventude excitada pela jovialidade da primavera. Os rasgos cor-de-rosa apareciam a medo. Um medo legítimo para quem se conheceu modesto, afável, moderado e complacente.
A suave infância e a perversa juventude de quem quis viver tudo ao mesmo tempo. Agora, mais do que nunca, Castro Mendes partia à descoberta da dissidência ou do seu acentuar. Conheceu Joana Amaral Tomás num passeio costumeiro de manhã primaveril. A inocência de Joana contrastava com os deslumbres viciosos de Castro Mendes. João era libertino e Amaral Tomás casta. Cedo se tornaram amigos e confidentes. Enquanto Joana desfrutava, candidamente, do seu primeiro beijo João de Castro fabricava fantasias copiosas. Os passeios alongavam-se pelas tardes soalheiras mesmos quando de noite o frio penetra nos quentes corações. Um amor fugaz terminara. João de Castro queria conquistar o mundo mas Joana apenas conquistá-lo. Ironia.
João de Castro Mendes viajou para Lisboa. Por lá viveu e morreu. Perdeu-se em sonhos gigantes. Joana Amaral Tomás viveu e morreu no Alentejo dentro do seio pacato da família que construiu.
Na retina, João de Castro Mendes, traduz o ruralismo progressista diletante. Joana Amaral Tomás o tradicionalismo lusitano. Um conflito macabro num Portugal com saudades de futuro.

Franco Infante de Melo