9 de outubro de 2008

A verdade incómoda

O discurso político caseiro, típico das pretensões eleitoralistas, não olha ao quadro internacional.

Enquanto os partidos do «Bloco Central» definem a estratégia para 2009 as preocupações internacionais redundam. A Direita vive, hoje, a ressaca do cavaquismo. Como movimento político-económico, o cavaquismo, representou o culto do executivo forte, da obra pública, do enriquecimento da Classe Média e a definição e ocupação, por parte do Estado, de sectores estratégicos da economia. Portugal assumia o Modelo Económico Misto onde o sector público e privado conviviam em harmonia e onde o Estado dispunha do papel regulador de toda a actividade económica. Sobre qualquer ponto de vista analítico o cavaquismo colocou Portugal na rota da modernidade. O cavaquismo findou e deixou saudades, os liberais nunca se impuseram e os populistas apaixonaram o PSD cada vez mais fraccionado. Manuela Ferreira Leite fez renascer o Cavaquismo, ergueu o silêncio, fez regressar as elites à pilotagem mas os murmúrios dos divergentes acentuam-se a cada dia que passa. Nunca o PSD esteve tão longo do rumo e os movimentos do anti-excesso brotam.
A Esquerda desfruta do triunfo, não demodèe, da velha máxima: «Em política a melhor propaganda é aquela que não parece propaganda». O Partido-Socialista montou uma cortina de ferro, à qual, só o Bloco de Esquerda tem acesso. Explicito: o intensificar de movimentos marginais, movimentos políticos que conhecem a sua génese no interior dos partidos mas que só adquirem expressão fora deles, deixa antever que dificilmente o PS auferirá de nova maioria absoluta. Manuel Alegre, poeta absorvido pelo sentimento de justiça social, outrora rotulado pelos capangas da Máquina de aposição interna, constituiu-se no veículo de aproximação ao bloco, o qual, o PS reclamara. Da anexação do Bloco ao PS resultará o «Esquerdão». Elucido: o bloco conquistou a Esquerda e o PS o Centro. O contacto de ambos manifesta-se na abertura do PS às questões sensíveis e pelo repensar do Bloco em matéria de rigor orçamental e metas europeias. Nesta conjuntura o «Esquerdão» garante duas clientelas eleitorais: o «Centro excêntrico», romantizado pelo Bloco, e o «Centro Moderando» afecto ao PS.
Kant escreveu: «o uso privado da razão acarreta limitações em nome da manutenção da ordem pública e da consciência de felicidade do Homem». Não reitero a ideia. Angola está a morrer. O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) obteve, nas legislativas de 5 e 6 de Setembro, 81,64% das intenções de voto. Assistiu-se ao controlo do Estado pelo próprio Estado e ao instrumentalizar dos meios de comunicação. Angola reinventou a chamada Fórmula Globo. Elucido: todo o movimento político brasileiro apoiado pela Estação Globo saiu vencedor.
Há um Portugal maquiavélico e negocista na linha da «governação sem governo» trazida pela Europa onde a razão de Estado – os fins justificam os meios – é a máxima dominante. Angola está sem destino e tornou-se um país politicamente inviável onde actua um ordenamento político corrupto. Só os Portugueses não vêem.


André Manuel Vaz